JMJ 2008 – Sydney
Ínicio: 15 Julho 2008
Fim: 20 Julho 2008
Jovens, profetas do amor
O Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa participou com um grupo de 25 jovens nas XXIII Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) em Sidney.
As expectativas eram variadas. Uns mais preocupados com o calor, outros com o desgaste causado pela viagem, mas todos com o mesmo objectivo – encontrarem-se com a cabeça da Igreja universal, mesmo que para isso fosse necessário vencer a distância com uma viagem de mais de 20 horas de avião. O grupo de 25 jovens provenientes da Diocese de Lisboa aterrou em Sidney na segunda-feira, dia 14 de Julho. Apesar de esta ser uma viagem extremamente cansativa, tal facto não foi impedimento para nos alegrarmos ao ver aquilo que o Senhor já tinha preparado para nós. Fomos acolhidos com um enorme carinho na casa das famílias, pertencentes à paróquia de Our lady of Fatima, em Kingsgrove, que se situa a 15 minutos (de comboio) do centro de Sidney. Preparados para receber o calor do Espírito Santo durante o Inverno australiano, começamos a caminhar pelas ruas de Sidney. Pudemos encontrar uma cidade nova na sua história e com uma beleza invulgar. Ao passarmos pelas ruas, o colorido ali presente era também sinónimo de alegria e comunhão entre os jovens de todo o mundo, que ali se reuniam com um propósito comum – o encontro com Cristo. A comunicação social local foi unânime ao classificar este evento: “Sidney nunca viu nada assim”. Pelas ruas ouvia-se expressões de habitantes, mostrando-se espantados por testemunharem uma presença tão grande de jovens nas ruas desta cidade, onde cada momento era oportuno para se cantar.
As jornadas em cada canto
Ao vivermos a semana, notámos que esta XXIII Jornada Mundial da Juventude foi muito provavelmente aquela que contou com a melhor organização. Espalhados pela cidade estavam milhares de voluntários que ajudavam os peregrinos a encontrar a sua actividade. Para além dos eventos comuns, existiram inúmeras propostas. Desde a adoração ao Santíssimo Sacramento, à possibilidade de rezar junto à cruz e ícone das jornadas, passando pela riqueza proporcionada pelas orações preparadas pela comunidade de Taizé. Mas para além destas actividades, as jornadas aconteciam a cada momento, na rua ou nos transportes, em cada sorriso ou conversa. Foi precisamente durante uma viagem de comboio até casa das famílias que nos acolheram, que eu não resisto a contar uma dessas histórias…
Volantino – antes e depois
As vestes que trazia despertaram a atenção e proporcionaram o início de uma curta conversa. Estaríamos longe de saber que ali podia estar uma história, capaz de tocar muita gente. A história é recente e marca uma importante mudança de vida. De nome Volantino, este frade por escolha de Deus deixou-se tocar por Deus e descobriu assim o imenso amor que Ele lhe tem, tendo até o poder para mudar a sua vida e para que outros acreditem n’Ele por causa do seu testemunho. Depois de nos explicar a enorme alegria de viver em constante louvor a Deus, retira da sua pequena bolsa uma espécie de álbum de fotografias pessoais. Chama a atenção de todos para duas das fotos. De um lado mostra a fotografia dele quando trabalhava numa pequena empresa de gás, em Itália. Deslocava-se de lambreta pelas ruas da cidade de Milão, onde também ali procurava saciar os seus vícios, como por exemplo o álcool e a droga. Estava, como o próprio diz, numa grande angústia, até ao dia em que se deixou tocar pelo Senhor através de um convite que iria mudar para muito melhor a sua vida. As diferenças entre o “antes” e o “depois” de conhecer Cristo são bem visíveis nas fotografias que mostra com alegria. Prestes a chegarmos à estação fiz uma ultima pergunta – como nós podemos saber que através de um acontecimento se encontra a acção do Espírito Santo? A resposta foi simples: “Fazendo a vontade de Deus. Se a fizeres, aí estará o Espírito Santo para que sejas feliz”. Foram estas e outras histórias semelhantes ou mais comedidas que se foram vivendo ao longo da semana, nos transportes e nas ruas de Sidney.
Jovens trazem a primavera ao Inverno australiano
Foi desta forma que um dos cardeais presentes na Missa de abertura das jornadas descreveu a presença dos jovens no país. Nesse momento começou-se a perceber a importância que a presença dos jovens estava a trazer para a cidade e para o país. Essa presença é o maior testemunho. “É importante que estejamos abertos ao Espírito Santo”, foi uma das frases deixadas pelo arcebispo de Sidney, cardeal George Pell, que pediu ainda aos jovens para não se deixarem dominar pelo conformismo: “Não passeis a vida sem tomar posição, pensando que é melhor não escolher, porque é dando atenção aos compromissos assumidos que podereis viver em plenitude”. Sendo a Austrália uns país evangelizado por vários missionários, foram também recordados todos aqueles que deram a vida pelo Evangelho, deixando também a pergunta se estariam os jovens prontos para partir. Estava dado o ponto de partida para o centro das actividades propostas pela organização a decorrer durante a semana. Nas manhãs de quarta, quinta e sexta-feira as catequeses que foram pregadas por bispos de diferentes países, junto de comunidades que falassem a mesma língua. Os temas ajudaram os jovens a aprofundar a acção do Espírito Santo nas suas vidas e também nas suas comunidades. Para quinta-feira, dia 17, estava marcada a chegada do Papa a Sidney. A bordo de um barco, Bento XVI foi acenando às milhares de pessoas que estavam nas margens, junto da Ópera até Barangaroo. À chegada ao local onde era esperado, o Santo Padre saudou todos os jovens e aproveitou também para reflectir sobre alguns dos maiores problemas que estão a destruir os valores mais importantes da nossa sociedade. Após a cerimónia de abertura, o Papa passou pelas ruas do centro da cidade onde o esperavam milhares de pessoas.
200 mil peregrinos dormem em Randwick
O hipódromo de Randwick foi onde se realizou a Vigília e Missa de encerramento das Jornadas Mundiais da juventude, no passado fim-de-semana. Começavam a chegar em grandes grupos e a julgar pelo número de bandeiras, seriam, com certeza, mais de duzentos mil peregrinos que responderam ‘sim’ ao convite do Papa, sem que a distância pudesse ser um problema. Aos peregrinos que vieram dos quatro cantos do mundo o Papa partilhou nessa noite de sábado a presença do Espírito Santo através do amor, realçando que para isso é necessária a disponibilidade dos jovens em aceitar a sua cruz como centro da nossa vida cristã. Após a conclusão da Vigília, houve lugar a um período de descanso onde os jovens puderam dormir, numa noite, que apesar de ser Inverno, esteve agradável.
Diferentes motivações, a mesma fé
Quem chegava a Sidney para participar nas jornadas trazia consigo uma experiência muito concreta de vida, com diferentes aspirações. Ao passear pelo recinto foram diversas as histórias de que fomos tendo conhecimento. Das Filipinas veio um grupo com cerca de 30 elementos que contou com o apoio não só dos familiares, mas também de algumas empresas que ajudaram o grupo a pagar a viagem. Como alimento, segundo Ginea, estas jornadas serviram para despertar a vocação por anunciar Deus em Missão ao longo do mundo. De Curitiba, no Brasil, o Mateus participava pela primeira vez nas jornadas e como experiência leva para casa a comunhão que existiu entre o grupo, onde tudo se partilhava. Já Hlengine, da África do Sul, contou com a colaboração do colégio que frequenta ao pagar-lhe a totalidade da viagem. A sua expectativa foi inesperadamente cumprida quando, mesmo por trás dela, passou o Papa. Foi a primeira vez que o viu com os seus próprios olhos. Esta experiência de tão marcante que foi fê-la ganhar ânimo para participar em outras jornadas. Da Croácia, a Daniela e a Gabriela conseguiram conhecer novas pessoas ao longo destes dias de jornada e também foram rejuvenescidas na sua fé. Vindas de um país maioritariamente católico, levaram para casa o testemunho de uma fé fortalecida pelas palavras do Papa.
Jovens: O que vão deixar para a próxima geração?
Esta foi uma das interrogações do Santo Padre, durante a homilia na missa de encerramento das jornadas. Cerca de 300 mil escutaram atentamente as palavras do Papa que nos convidava também a sermos profetas deste novo tempo. O testemunho dos missionários também foi recordado como muito importante para a Austrália. Estas jornadas apesar de exigirem muito sacrifício da maior parte dos jovens, tal como reconhecia o Papa Bento XVI, foram importantes para toda a Igreja, em particular a da Austrália que veio assim fortalecer a imagem do catolicismo, num território onde também existem inúmeras outras religiões. A alegria superou o cansaço destas jornadas e fez com que os jovens voltassem para suas casas com o Espírito do Amor.
Filipe Teixeira